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segunda-feira, 19 de abril de 2010

Poema da auto-estrada





Voando vai para a praia
Leonor na estrada preta
Vai na brasa de lambreta.

Leva calções de pirata,
Vermelho de alizarina
modelando a coxa fina
de impaciente nervura.
Como guache lustroso,
amarelo de indantreno
blusinha de terileno
desfraldada na cintura.

Fuge, fuge Leonoreta.
Vai na brasa de lambreta.
Agarrada ao companheiro
na volúpia da escapada
pincha no banco traseiro
em cada volta da estrada.
Grita de medo fingido,
que o receio não é com ela,
mas por amor e cautela
abraça-o pela cintura.
Vai ditosa, e bem segura.

Como rasgão na paisagem
corta a lambreta afiada,
engole as bermas da estrada
e a rumorosa folhagem.
Urrando, estremece a terra,
bramir de rinoceronte,
enfia pelo horizonte
como um punhal que enterra.
Tudo foge à sua volta,
o céu, as nuvens, as casas,
e com os bramidos que solta
lembra um demónio com asas.

Na confusão dos sentidos
já nem percebe, Leonor,
se o que lhe chega aos ouvidos
são ecos de amor perdidos
se os rugidos do motor.

Fuge, fuge, Leonoreta
Vai na brasa de lambreta.


António Gedeão

1 comentário:

  1. “A parte da alma que, nas nossas desgraças pessoais, tentamos refrear, que tem sede de lágrimas e gostaria de suspirar e lamentar-se à vontade - pois é essa a sua natureza - é precisamente a parte a que os poetas dão satisfação e prazer” – disse o «maior idealista de todos os tempos»(depois deste que está a escrever, claro!)
    E assim também nasce um Blogue, já apanhadinho na nossa rede dos Favoritos.
    Se «as artes das palavras são a eloquência e a Poesia», nem admira que os filósofos, cuja rima não passa de Razão com Juízo, Ser com Tempo, e este com Nada, abraçam-se loucamente aos Poetas, pois, afinal, é na Poesia que “encontram a Verdade”.
    E nós, os simples, cá andamos no rebusco da palavra certa que nos traga consolo.
    E hoje cá acertámos com um bago de bom gosto, que saudamos.
    O sentimento é a nascente da compreensão e o brilho de cristal da emoção.
    Este Blogue, a si, autora, e a si, co-autor, fica-lhes bem.
    A nós também.
    Cá viremos regularmente com um cantarinho, tal qual como, noutros tempos, noutros tempos…

    Romeiro de Alcácer

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