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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Preencho o meu pôr do sol

Preencho o meu pôr do sol,

As minhas horas,

Os meus séculos

Com saudades de fim de tarde!

Vens sorrindo estrelas...

E anuncias luares de Janeiro...

Contemplo-te deste lado das horas tardias

E vejo-te no espelho da ausência.

Para lá do infinito da minha alma,

Construo a ponte que me leva a ti

E agarro a mão

Que me faz atravessar oceanos de carinho!

Na orla do meu caminho para ti,

Rompo a queratina do tempo

E a cartilagem da dor,

Toco-te a serenidade,

A tua linha de horizonte que desconheço

E encontro afagos,

Vontade de encher vazios,

Asas de ternuras

Entranhadas na ausência!

 
(autor não identificado)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Liberdade

Ser livre é querer ir e ter um rumo

e ir sem medo,

mesmo que sejam vãos os passos.

É pensar e logo

transformar o fumo

do pensamento em braços.

É não ter pão nem vinho,

só ver portas fechadas e pessoas hostis

e arrancar teimosamente do caminho

sonhos de sol

com fúrias de raiz.

É estar atado,amordaçado,em sangue,exausto

e,mesmo assim,

só de pensar gritar

gritar

e só de pensar ir

ir e chegar ao fim.


Armindo Rodrigues

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

o tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias

o tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias,

como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo,

mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.

eram os teus olhos, labirintos de água, terra, fogo, ar,

que eu amava quando imaginava que amava. era a tua

a tua voz que dizia as palavras da vida. era o teu rosto.

era a tua pele. antes de te conhecer, existias nas árvores

e nos montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde.

muito longe de mim, dentro de mim, eras tu a claridade.


José Luís Peixoto

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Alma minha gentil, que te partiste - A um Amor Maior

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.


Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.


E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,


Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.


Luís Vaz de Camões

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar

“À beira do vazio compreendeu o mais importante: que só voa quem se atreve a fazê-lo.”

Luís Sepúlveda

sábado, 14 de agosto de 2010

Lenda do Oriente


Conta uma popular lenda do Oriente, que um jovem chegou à beira de um oásis, junto a um povoado e, aproximando-se de um velho, perguntou-lhe:

-"Que tipo de pessoas vive neste lugar?"

Perguntou por sua vez o ancião:

-"Que tipo de pessoa vive no lugar de onde você vem?"

Respondeu-lhe o rapaz:

-"Oh! Um grupo de egoístas e malvados. Estou satisfeito de haver saído de lá."

A isso o velho replicou:

-"A mesma coisa você haverá de encontrar por aqui."

No mesmo dia, um outro jovem se acercou do oásis para beber água e vendo o ancião perguntou-lhe:

-"Que tipo de pessoas vive por aqui?"

O velho respondeu com a mesma pergunta:

-"Que tipo de pessoas vive no lugar de onde você vem?"

O rapaz respondeu:

-"Um magnífico grupo de pessoas, amigas, honestas, hospitaleiras. Fiquei muito triste por ter de deixá-las".

Respondeu o ancião:

-"O mesmo encontrará por aqui".

Um homem que havia escutado as duas conversas perguntou ao velho:

-"Como é possível dar respostas tão diferentes à mesma pergunta?"

E o velho respondeu:

-"Cada um carrega no seu coração o meio ambiente em que vive. Aquele que nada encontrou de bom nos lugares por onde passou, não poderá encontrar outra coisa por aqui. Aquele que encontrou amigos ali, também os encontrará aqui."

"Somos todos viajantes no tempo e o futuro de cada um de nós está escrito no passado. Ou seja, cada um encontra na vida exatamente aquilo que traz dentro de si mesmo. O ambiente, o presente e o futuro somos nós que criamos e isso só depende de nós mesmos."

(Desconheço o Autor)
Viajantes no tempo
Fonte: Mensagens e Poemas

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A Grande Esfinge do Egipto

A Grande Esfinge do Egito sonha por este papel dentro...
Escrevo — e ela aparece-me através da minha mão transparente
E ao canto do papel erguem-se as pirâmides...
Escrevo — perturbo-me de ver o bico da minha pena
Ser o perfil do rei Quéops ...
De repente paro...
Escureceu tudo...

Caio por um abismo feito de tempo...

Estou soterrado sob as pirâmides a escrever versos à luz clara deste candeeiro
E todo o Egito me esmaga de alto através dos traços que faço com a pena...

Ouço a Esfinge rir por dentro
O som da minha pena a correr no papel...
Atravessa o eu não poder vê-la uma mão enorme,
Varre tudo para o canto do teto que fica por detrás de mim,
E sobre o papel onde escrevo, entre ele e a pena que escreve
Jaz o cadáver do rei Quéops, olhando-me com olhos muito abertos,
E entre os nossos olhares que se cruzam corre o Nilo
E uma alegria de barcos embandeirados erra
Numa diagonal difusa
Entre mim e o que eu penso...

Funerais do rei Quéops em ouro velho e Mim! ...

Fernando Pessoa