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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Pergunta

Quem vem de longe e sabe o nome do meu lugar
e levou o caminho das conchas em mar
e dos olhos em rio
— quem vem de longe chorar por mim?

Quem sabe que eu findo de dureza
e condensa ternura em suas mãos
para a derramar em afagos
por mim?

Quem ouviu a angústia do meu brado,
sirene de um navio a vadiar no largo,
e me traz seus beijos e sua cor,
perdendo-se na bruma das madrugadas
por mim?

Quem soube das asperezas da viagem
e pediu o pão negado
e o suor ao corpo torturado,
por mim? por mim?

Quem gerou o mundo e lhe deu seu nome
e seu tamanho — imenso, imenso,
e em mim cabe?


Fernando Namora

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Ilha

Deitada és uma ilha E raramente

surgem ilhas no mar tão alongadas

com tão prometedoras enseadas

um só bosque no meio florescente



promontórios a pique e de repente

na luz de duas gémeas madrugadas

o fulgor das colinas acordadas

o pasmo da planície adolescente



Deitada és uma ilha Que percorro

descobrindo-lhe as zonas mais sombrias

Mas nem sabes se grito por socorro



ou se te mostro só que me inebrias

Amiga amor amante amada eu morro

da vida que me dás todos os dias


David Mourão-Ferreira

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Quando eu nasci

Quando eu nasci,

ficou tudo como estava,

Nem homens cortaram veias,

nem o Sol escureceu,

nem houve Estrelas a mais...

Somente,

esquecida das dores,

a minha Mãe sorriu e agradeceu.


Quando eu nasci,

não houve nada de novo

senão eu.


As nuvens não se espantaram,

não enlouqueceu ninguém...


P'ra que o dia fosse enorme,

bastava

toda a ternura que olhava

nos olhos de minha Mãe...


José Régio