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quinta-feira, 22 de julho de 2010

Sacode as nuvens

Sacode as nuvens que te poisam nos cabelos,

Sacode as aves que te levam o olhar.

Sacode os sonhos mais pesados do que as pedras.



Porque eu cheguei e é tempo de me veres,

Mesmo que os meus gestos te trespassem

De solidão e tu caias em poeira,

Mesmo que a minha voz queime o ar que respiras

E os teus olhos nunca mais possam olhar.
 
 
Sophia de Mello Breyner

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Balada de sempre

Espero

a tua vinda,

a tua vinda,

em dia de lua cheia.

debruço-me sobre a noite

inventando crescentes e luares.

Espero o momento da chegada

com o cansaço e o ardor de todas as chegadas.

Rasgarás nuvens, estradas,

abrindo clareiras

nas sebes e nas ciladas.

Saltarás por cima de mares,

de planícies e relevos

- ânsia alada

no meu desejo imaginada

Mas

enquanto deixo a janela aberta

para entrares

o mar aí além,

lambe-me os braços hirtos,

braços verdes

algas de sonho

- e desenha ironias na areia molhada.


Fernando Namora

sábado, 17 de julho de 2010

A Minha’Alma

A Minh’Alma, só, triste, deserdada,
É caravela d’Azinho ao mar afeita.
Tão segura que as vagas não respeita,
Nas marés d’Outono… levantadas.

De velas brancas - azul na proa ousada-
Aos credos sem Credo não sujeita,
Singra liberta, nobre e não perfeita,
Ao encontro da praia procurada.

Mas, no mar, em lides acometendo,
De flâmulas içadas… aos ventos caídos,
Mais de mil ocultas magos padecendo.

São os danos que ficam e vão vivendo,
Da saudade doce… amores perdidos,
Na manhã… de tarde louca… descendo.

Francisco Padeira

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Cavalo à Solta


Minha laranja amarga e doce
meu poema
feito de gomos de saudade
minha pena
pesada e leve
secreta e pura
minha passagem para o breve, breve
instante da loucura


Minha ousadia
meu galope
minha rédea
meu potro doido
minha chama
minha réstia
de luz intensa
de voz aberta
minha denúncia do que pensa
do que sente a gente certa


Em ti respiro
em ti eu provo
por ti consigo
esta força que de novo
em ti persigo
em ti percorro
cavalo à solta
pela margem do teu corpo


Minha alegria
minha amargura
minha coragem de correr contra a ternura.


Por isso digo
canção castigo
amêndoa travo corpo alma amante amigo
por isso canto
por isso digo
alpendre casa cama arca do meu trigo


Meu desafio
minha aventura
minha coragem de correr contra a ternura


Ary dos Santos

domingo, 4 de julho de 2010

Conheço o Sal

Conheço o sal da tua pele seca
depois que o estio se volveu inverno
da carne repousando em suor nocturno.

Conheço o sal do leite que bebemos
quando das bocas se estreitavam lábios
e o coração no sexo palpitava.

Conheço o sal dos teus cabelos negros
ou louros ou cinzentos que se enrolam
neste dormir de brilhos azulados.

Conheço o sal que resta em minha mãos
como nas praias o perfume fica
quando a maré desceu e se retrai.

Conheço o sal da tua boca, o sal
da tua língua, o sal de teus mamilos,
e o da cintura se encurvando de ancas.

A todo o sal conheço que é só teu,
ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
um cristalino pó de amantes enlaçados.


Jorge de Sena